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Três décadas marcadas pela formação de leitores

 

 Celebração da leitura, do livro, do autor e do leitor. Uma das maiores movimentações literárias da América Latina transformou Passo Fundo, no Norte do Rio Grande do Sul, na Capital Nacional e Estadual da Literatura. Durante 30 anos, foram desenvolvidos projetos e iniciativas para fortalecer ainda mais o propósito do evento, bianual.

 

A Jornada Nacional de Literatura de Passo Fundo completa neste ano três décadas de formação de leitores, sejam crianças interagindo com seus primeiros livros ou leitores que já trilham seus próprios caminhos no mundo mágico da literatura. Nesta 14ª edição, o Circo da Cultura mais uma vez estará de pé, de 22 a 26 de agosto de 2011, esperando seu cativo público para comemorar os 30 anos de uma das maiores movimentações literárias da América Latina. 

A Jornada Literária manteve em suas três décadas o mesmo propósito que deu origem à criação do evento, em 1981: a formação de um leitor que priorize o texto literário, mas que também possa se constituir em um intérprete das linguagens veiculadas em diferentes suportes e das características peculiares das várias manifestações culturais. O tom festivo e informal, associado a uma programação cultural diversificada e repleta de autores renomados da literatura brasileira e estrangeira, fez da Jornada um dos maiores eventos literários da América Latina.

Com o passar das edições, a estrutura foi se renovando, incorporando à programação uma série de atividades culturais. A programação, antes voltada para debates sobre educação e cultura, ganhou uma série de outras atrações, entre as quais exposições, espetáculos teatrais, apresentações musicais e concursos, sempre com a proposta de aproximar os autores do público e de formar leitores.

O resultado disso é que, nestes 30 anos de história, a Jornada não parou de crescer. O público de apenas 750 pessoas da primeira edição ultrapassou a marca de 30,2 mil participantes em 2009 e chegou a atingir mais de 130 mil pessoas durante as três décadas. E para abrigar essa quantidade de pessoas, também foi preciso passar de ginásios para estruturas muito maiores. Hoje, são cinco lonas que acolhem os participantes, criando a imagem de um grande circo cultural.

Para alcançar seus objetivos, a Jornada Literária tem uma proposta diferenciada, na medida em que busca aproximar o público participante dos escritores convidados antes mesmo da realização do evento. Conhecida como Pré-Jornada, a metodologia desta movimentação preparatória é simples. Os autores convidados indicam uma série de obras que são lidas e discutidas antecipadamente pelo público, fazendo com que este se familiarize com o tema a ser debatido durante o evento. A estratégia proporciona mais qualidade aos debates, com discussões mais aprofundadas, o que motiva ainda mais os principais atores da Jornada: escritores e leitores.

O esforço de uma equipe interdisciplinar e incansável fez da Jornada Literária um evento reconhecido nos meios intelectuais da América Latina, Estados Unidos, Canadá e Europa. Os impactos positivos da Jornada sobre a formação de leitores e a modificação dos hábitos de leitura em Passo Fundo também levaram a cidade a receber diversos títulos.

Passo Fundo transformou-se, por proposição do vereador Marcos Cittolin, em Capital Nacional de Literatura, através da Lei nº 4131, da Câmara de Vereadores de Passo Fundo, em 1º de junho de 2004. Por proposição do deputado Beto Albuquerque, defendida na Câmara Federal e aprovada pelo Senado, transformando-se em Lei Federal sancionada pelo Presidente Luís Inácio Lula da Silva, nº 11264 de 02/01/2006, a Jornada deu à cidade de Passo Fundo o título de Capital Nacional da Literatura.

Já por proposição do deputado estadual Luciano Azevedo, Passo Fundo também é Capital Estadual da Literatura, por meio da Lei Lei nº 12.838 de 13/11/2007 da Assembleia Legislativa/RS. E indicadas pelo deputado estadual Giovani Chierini, as Jornadas Literárias fazem parte do Patrimônio Histórico do Rio Grande do Sul, através da Lei nº 12.295 de 21/06/2005.

O reconhecimento dos poderes públicos proporcionou à cidade espaços especiais dedicados à leitura. Desde 2008 é mantido na cidade o Largo da Literatura Passo-Fundense, junto ao Marco da Capital Nacional da Literatura, que se constitui de um quiosque multimidial com livros, revistas e jornais, acesso à internet, e a principal atração do local: a Árvore das Letras.

Em 2010, na Praça Francisco Antonino Xavier e Oliveira, em frente ao Hospital da Cidade, foi inaugurado o Largo da Literatura Brasileira. Também no ano passado foram inaugurados o Largo da Literatura Gauchesca, na Praça Guilherme Spery, e o Largo da Literatura Cômica, na Praça Abraão Madalosso, em frente ao Teatro Municipal Múcio de Castro. Os Largos da Literatura integram o projeto de consolidação da cidade de Passo Fundo como Capital Nacional da Literatura. Os espaços têm por objetivo revitalizar lugares históricos e estratégicos da cidade e envolver a comunidade em diferentes manifestações culturais. Os Largos foram construídos com a união entre Universidade de Passo Fundo e Prefeitura Municipal, por meio das Secretarias de Educação e de Desporto e Cultura e Ministério do Turismo do Governo Federal.

 

Tudo começou em 1981...

A ideia da Jornada partiu da professora Tania Rösing – à época coordenadora dos cursos de Letras da Universidade de Passo Fundo e hoje coordenadora geral das Jornadas Literárias – em conversa com o escritor Josué Guimarães, em abril de 1981. O entusiasmo de Guimarães, que aprovou integralmente a iniciativa, levou Tania Rösing a procurar o apoio da Universidade de Passo Fundo para a organização do evento.

Em agosto de 1981, a 1ª Jornada de Literatura Sul Rio-Grandense contou com a participação de cerca de 750 inscritos. Entre os escritores convidados estavam Armindo Trevisan, Antonio Carlos Resende, Cyro Martins, Carlos Nejar, Josué Guimarães, Moacyr Scliar, Sérgio Capparelli e Deonísio da Silva, além do poeta Mario Quintana, o homenageado especial.

O público, composto principalmente por estudantes e professores universitários, ficou empolgado com a possibilidade de dialogar com os escritores. Participar de um evento cuja preocupação principal era a discussão e a divulgação de obras foi uma experiência inédita para todos. Os universitários escreveram resenhas e as melhores foram publicadas em jornais locais.

Com o sucesso atingido pela 1ª Jornada, Josué Guimarães sugeriu que o evento ganhasse abrangência nacional e fosse realizado a cada dois anos. Guimarães engajou-se pessoalmente em trazer escritores do eixo Rio-São Paulo a Passo Fundo. Em 1983, o evento foi batizado de Jornada Nacional de Literatura. A primeira edição da Jornada Nacional teve a participação de escritores como Antonio Callado, Millôr Fernandes, Otto Lara Resende, Fernando Sabino, Luis Fernando Veríssimo, Luiz Antônio de Assis Brasil, Lya Luft e Orígenes Lessa. O público chegou a 1.100 pessoas.

Josué Guimarães foi o coordenador dos debates, figura criada para evitar a repetição de escritores em eventos seguidos. Após sua morte, esse papel foi assumido por Ignácio de Loyola Brandão e Deonísio da Silva. Atualmente, Brandão divide o posto com o romancista e dramaturgo Alcione Araújo e Júlio Diniz, ensaísta e professor de literatura brasileira da PUC-RJ.

Em 1985, a 2ª Jornada Nacional de Literatura teve entre os convidados Joel Rufino dos Santos, Affonso Romano de Sant’Anna, Marina Colasanti, Ignácio de Loyola Brandão, Ruth Rocha, Caio Fernando Abreu e Nélida Piñon.

A 3ª Jornada, em 1988, reuniu mais de 2.500 pessoas interessadas em debater com Marcelo Rubens Paiva, Silviano Santiago, José J. Veiga, Ana Maria Machado, João Gilberto Noll, Eric Nepomuceno, entre outros convidados. Nesse ano também foi realizada a primeira edição do Concurso Nacional de Contos Josué Guimarães.

A partir da edição de 1991, a Prefeitura Municipal de Passo Fundo passou a ser copromotora do evento, ao lado da Universidade de Passo Fundo. A 4ª Jornada teve a participação de Antônio Torres, Paulo Caruso, Angeli, João Antônio, Claudio Willer, Alice Ruiz e o argentino Mempo Giardinelli, entre outros. Cerca de três mil pessoas lotaram o ginásio de esportes da Associação Atlética Banco do Brasil.

Em 1993, a 5ª Jornada trouxe a Passo Fundo personalidades como o português José Cardoso Pires, o uruguaio Eduardo Galeano, Lygia Bojunga Nunes, Carlos Nejar, João Ubaldo Ribeiro, Marina Colasanti e José Paulo Paes.

Na edição de 1995, a primeira realizada sob a lona do Circo de Cultura, em local situado em frente à prefeitura, Décio Pignatari, José Castello, Zuenir Ventura, Fernando Morais, Ruy Castro, Luis Fernando Veríssimo, Décio Freitas e Millôr Fernandes foram os principais nomes convidados.

A 7ª Jornada aconteceu em setembro de 1997 e reuniu Fernando Gabeira, Moacyr Scliar, Mia Couto, Antonio Skármeta, Carlos Heitor Cony, Márcio Souza, Luis Augusto Fischer, Mario Prata, Adélia Prado e Ziraldo. No dia do encerramento foi anunciada pelo Prefeito Júlio Teixeira, através de Lei Municipal, a criação do Prêmio Passo Fundo Zaffari & Bourbon de Literatura, no valor de R$ 100 mil, a ser entregue na edição seguinte da Jornada e concedido ao melhor romance escrito em língua portuguesa publicado entre 1997 e 1999.

Sob o tema “Censura e Exclusão na Literatura e em Outras Linguagens”, a 8ª Jornada recebeu Alcione Araújo, Manoel de Barros, José Eduardo Agualusa, Roberto Drummond, Augusto Boal, Roberto da Matta, Pepetela, Helder Macedo, José Roberto Torero, entre outros. Cerca de 3.500 inscritos participaram dos debates. O vencedor do Prêmio Passo Fundo Zaffari & Bourbon de Literatura foi Sinval Medina, gaúcho radicado em São Paulo, autor do romance Tratado da altura das estrelas.

A 9ª Jornada teve como tema orientador de debates “2001: Uma Jornada na Galáxia de Gutenberg”. A proposta foi abordada por convidados como Alberto Manguel, Frei Betto, Antonio Skármeta, Marina Colasanti, Maria Adelaide Amaral, Emir Sader e Mario Prata. Quatro mil pessoas se inscreveram nos debates e doze mil crianças e adolescentes lotaram a 1ª Jornadinha Nacional de Literatura, reservada a alunos do ensino fundamental e médio. Entre os convidados da Jornadinha, Ruth Rocha, Fabrício Carpinejar, Ziraldo e Carlos Urbim. O catarinense Salim Miguel e o baiano Antônio Torres dividiram o 2º Prêmio Passo Fundo Zaffari & Bourbon de Literatura, pelos romances Nur na Escuridão e Meu Querido Canibal.

“Vozes do Terceiro Milênio: a Arte da Inclusão” foi o eixo dos debates da 10ª Jornada, em 2003. Frei Betto, Marcelino Freire, Joel Rufino dos Santos, Marcus Accioly e Drauzio Varella estiveram entre os escritores convidados. O pensador francês Edgar Morin recebeu o título de Professor Honoris Causa da Universidade de Passo Fundo. A 2ª Jornadinha recebeu, entre outros, Eva Funari, Maurício de Sousa, Ângela Lago e Cristina Porto. O romance O Riso da Agonia, do gaúcho Plínio Cabral, levou o 3º Prêmio Passo Fundo Zaffari & Bourbon de Literatura.

A 11ª Jornada, em 2005, abordou o tema “Diversidade Cultural: O Diálogo das Diferenças”. Marcaram presença nomes como o filósofo francês Gilles Lipovetsky, Alberto Dines, o escritor moçambicano Mia Couto e Ricardo Cravo Albin. Na 11ª edição, o escritor e dramaturgo paraibano Ariano Suassuna recebeu o título de Doutor Honoris Causa da Universidade de Passo Fundo. Chico Buarque de Holanda venceu o 4º Prêmio Passo Fundo Zaffari & Bourbon de Literatura com o romance Budapeste. A novidade da edição ficou por conta da realização do primeiro encontro fora da sede, no Rio de Janeiro, da Academia Brasileira de Letras, que veio a Passo Fundo para debater o tema “Reinventando os Clássicos”.

A 12ª Jornada Literária foi realizada em 2007 e teve como tema “Leitura da Arte e Arte da Leitura”. Estiveram presentes o historiador e antropólogo italiano Carlo Ginzburg, o poeta francês Henri Deluy, o poeta e dramaturgo cubano Reinaldo Montero, o romancista polonês Miroslaw Bujko, e os brasileiros Affonso Romano de Sant’Anna, Ferréz, José Roberto Torero, Lya Luft, Luiz Ruffato, Mariana Ianelli, Milton Hatoum, Elisa Lucinda, Nelson Motta, Ziraldo e Marcos Vilaça. Como inovação, foi realizado o Encontro Estadual de Escritores, sob a coordenação de Luiz Augusto Fischer. O empresário e bibliófilo José Mindlin foi agraciado com o título de Doutor Honoris Causa da Universidade de Passo Fundo e o escritor moçambicano Mia Couto foi o vencedor da 5ª edição do Prêmio Zaffari & Bourbon de Literatura, com a obra O outro pé da sereia.

Na última edição da Jornada – 13ª, realizada em 2009, o tema foi “Arte e Tecnologia: novas interfaces”. Entre os presentes estiveram Guillermo Arriaga, Carlo Frabetti, Wim Veen, Marcello Dantas, Moacyr Scliar e Lucia Santaella. O escritor Cristovão Tezza recebeu R$ 100 mil pela conquista do 6º Prêmio Passo Fundo Zaffari & Bourbon de Literatura, com o livro O Filho Eterno. Uma das atrações daquele ano foi o livro-robô, criado pelo artista porto-alegrense Abnel Lima Filho. Com as características de um transformer, o robô foi o símbolo da 13ª Jornada Nacional de Literatura e representou o tema daquela da edição.

 

 

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15ª Jornada Nacional de Literatura