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Depoimento de autores


Eu tenho uma tese pessoal de que o ficcionista, principalmente o romancista, é um contador de histórias. Eu não gosto do livro em que o sujeito faz uma catarse pessoal e que não tem história.  Você lê o livro inteiro e não entende bem, porque não tem história.  Não quero fazer citações, mas tem livros brasileiros que se dizem romances mas que verdadeiramente são recortes de jornais, manchetes de revistas.  Têm um valor literário para o crítico, para o professor de Literatura, mas no fundo ele não é um romance.  Acho que contar bem uma história é outra coisa.  Toda a história da Literatura Universal é uma história contada.  Os grandes autores universais contaram sempre uma história.  Eu não gosto de livro que não tem uma história, que é uma série de coisas e páginas reunidas numa loucura total.  É uma opinião pessoal.  Pode ser que alguém goste exatamente disso.  

                                                                                        Josué Guimarães

 

É emocionante – quase irreal – ver uma cidade inteira mobilizada em torno do livro. As pessoas nas ruas de Passo Fundo têm cara de leitores ávidos, exibem uma alegria contagiante; as vitrines de suas lojas expõem livros, um circo tem sempre o público de uma estreia, ainda que sem trapezistas e sem leões no picadeiro. Pessoas que nunca imaginavam estar ali, encantam o público sonhando que são palhaços russos. E são, apenas, escritores brasileiros. Vivi várias vezes esta emoção, desde quase o começo desta grande aventura criada e comandada pela vontade férrea da Tania Rösing, mais chic do que uma domadora de cartola e chicote. Este começo tinha, para mim, a presença e o convívio do Moacyr Scliar, com seu olhar e seu sorriso de homem sereno, com o João Antônio – que também já se foi, para nosso grande pesar – e, principalmente, com o Loyola, sentado em cima de uma mesa de sala de aula, na posição de Buda, encantando embevecidas professoras vindas de todo o sul.

Independente de sua importância nacional na área editorial, na comunicação e, principalmente, na educação, as Jornadas Literárias de Passo Fundo têm sido uma das grandes aventuras da minha vida.  

                                                                                                          Ziraldo

 

Um dos meus parcos orgulhos é ser um veterano nas Jornadas. A primeira vez foi em 1985, pouco mais, pouco menos (a memória às vezes trai). Sou, portanto, veterano testemunho de como essa iniciativa generosa e ousada evoluiu, até se transformar no maior evento literário do Brasil, no maior impulso de estímulo à leitura. Eu me orgulho das Jornadas como quem se orgulha de alguém que viu crescer e se transformar numa referência única. Nas Jornadas conheci mestres como Josué Guimarães e J.J.Veiga, reencontrei mestres como José Cardoso Pires, nas Jornadas reencontrei amigos que tinham-se perdido nos rumos da vida, nas Jornadas fiz novos amigos que perduram pelos tempos.
Esse ambiente de camaradagem entre autores e leitores é único. Absolutamente único. E deve ser preservado como patrimônio não apenas de nós, escritores, ou de nós, leitores: de nós, brasileiros. De nós, cidadãos latino-americanos. De todos nós, cidadãos do nosso tempo.

                                                                                 Eric Nepomuceno

 

Vi nascerem as Jornadas de Passo Fundo, quando ainda vivia Josué Guimarães. Conheci Tania Rösing e admirei, desde logo, a sua inteligência e energia a serviço da literatura, sua capacidade de formar equipes, distribuir tarefas, comandar com rigor e ternura. Imagino quantas pessoas, profissionais ou não, ela juntou e tornou coautoras das sucessivas Jornadas. É uma obra coletiva.

Fui profeta, imaginei que seria um dos melhores eventos culturais do país, ato de amor explícito às letras. Nenhum lugar trata o escritor tão bem.

 Não esqueço a emoção que me tomou, a mim e a Teresa, entrando na primeira lona. Não me esqueço da conferência de Edgar Morin. Não me esqueço das ruas de Passo Fundo, que consideramos, a partir das Jornadas, segunda terra natal.

                                                                             Joel Rufino dos Santos

 

A história do livro, da  leitura e do  leitor passa, necessariamente,  por Passo Fundo. Essa pequena cidade do interior brasileiro conseguiu algo invejável e exemplar: tornou-se o centro de referência cultural do país. Acompanhei essa peripécia desde o princípio, desde quando Tania improvisava almoço para os convidados na garagem de sua casa. Hoje é essa espécie de "Rock in Rio” da literatura.

                                                                              Affonso Romano de Sant’Anna

 

Confesso que para mim é impossível viver sem a Jornada.

A cada dois anos ela me alimenta, me nutre, me mata a sede, a saudades, me embriaga de esperanças de que o Brasil será outro em alguns anos.

Um Brasil de leitores.

Um Brasil culto.

Um Brasil que terá seu embrião nessas tardes e noites memoráveis de Passo Fundo.

Aos trinta estou aqui. Quanto ela fizer cinquenta, terei quase cem. Espero estar aqui e ter forças para subir ao palco.

Se não, ficarei na plateia mesmo.

Viva, viva, viva!

                                                                    Ignácio de Loyola Brandão

 

 As Jornadas Literárias de Passo Fundo completam trinta anos, mas parece que foi ontem que o Josué e a Tania se uniram para dar início a um projeto que soava quixotesco: atrair para a leitura literária o público escolar, num evento que punha em contato alunos e professores de uma região ainda pouco saliente do Rio Grande do Sul com escritores e críticos brasileiros. Foi uma façanha digna de Cervantes, não por acaso um defensor da entrega do leitor ao texto até a loucura. Ao longo dos anos, o que era uma semente transformou-se não apenas em árvore frondosa, mas numa floresta inteira. Nomes dos mais expressivos da cultura brasileira foram conhecidos em carne e osso por um público cada vez mais amplo e ávido por discutir universos ficcionais, personagens, formas de narrar e de poetar. E os convidados receberam sempre o mais fino trato: a literatura e o pensamento foram alçados à condição dos mais imponentes festivais, mas não como mero espetáculo de celebridades. A condução segura e esclarecida de Tania Rösing e de sua bravíssima equipe de colaboradores manteve um nível acadêmico na relação convidados e público, projetando o nome da Universidade de Passo Fundo além fronteiras não só estaduais, mas nacionais. A cidade tornou-se a capital brasileira da literatura, por obra e raça de poucas pessoas que perseguiram o sonho de Josué: um palco para escritores e leitores que entranhasse nas plateias o amor pelo texto literário.

                                                                          Maria Da Glória Bordini 

 

No princípio, eram apenas as Jornadas de Literatura, organizadas e realizadas em Passo Fundo, sob o comando da universidade local e a liderança de Tania Rösing. Depois, vieram os muitos outros eventos focados na literatura, que, nesse começo da segunda década do século XXI, desenham a geografia cultural de nosso país. Hoje, um consistente circuito literário garante a difusão da leitura da literatura para além dos aparelhos educacionais, oportunizando a escritores e leitores encontros, debates, convivência amistosa e manifestação de seu gosto por livros e por outros suportes do texto escrito.

Não se trata, porém, de tão-somente reconhecer o pioneirismo das Jornadas de Literatura, o que lhe garante importância histórica e papel fundamental na formação de várias gerações de leitores. Mas também – e principalmente – de assinalar que as Jornadas permanecem à frente desse processo, servindo de exemplo e emulação para todos os que desejam valorizar a literatura enquanto hipótese de conhecimento do mundo e alavanca do desejo de autoaperfeiçoamento e melhoria da sociedade de que fazemos parte.

                                                                           Regina  Zilberman

 

Como primeiro número, eu vou cantar “Nós somos todos inúteis”. Ter um auditório destes é para Roberto Carlos, coisa assim; com um microfone na mão, no mínimo, tem que cantar alguma coisa.

                                                                     Affonso de Romano Sant’Anna

 

Estou-me sentindo um Menudo da literatura; sei agora como se sente um cantor diante de milhares de pessoas.  O que é a vibração, o bom astral, o fluido.  Coisas que te levam a levitar: a gente flutua sobre a platéia, não quer nunca mais sair.  Passo Fundo massageia o ego. 

                                                                                Ignácio de Loyola Brandão