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Depoimento de autores

 

Sou uma testemunha do nascimento da Jornada. Naquela época eu era relativamente próximo ao casal Josué e Nídia Guimarães e soube da tua iniciativa exatamente pela Nídia. Nós ainda vivíamos sob o regime militar, e a ideia de realizar um encontro voltado para os livros e para a literatura no meio-oeste do Rio Grande parecia um ato de insanidade ou perda de tempo. Naquele momento havia uma atitude acovardada diante das coisas da cultura, de algum modo percebia-se um desconforto em tocar em assunto de livros e de ideias, porque ainda sentíamos os efeitos tardios da censura. Mas, felizmente, graças a tua coragem e determinação, o milagre da multiplicação da leitura se fez realidade no interior do nosso estado. Hoje, acredito que a Jornada se fixou como um dos maiores eventos culturais não só do Brasil, mas como de toda a América ( Não sei se nos EUA existe algo equivalente em importância e repercussão). Aliás, nem nas minhas idas à Europa eu encontrei algo equivalente. Esta agitação saudável,  esta mobilização que conseguiste fazer em favor da valorização da leitura. Eles têm muitos centros culturais, mas tudo parece meio morto se comparado com o formigueiro cultural que se tornou a Jornada Literária de Passo Fundo, sacudida por palestras, por encontros com intelectuais, com vendas de livros, com gente espalhada por todos os lados comentado os textos, uma verdadeira Babilônia onde todo mundo se encontra na linguagem comum do amor pelos livros. Fico sempre imaginando a maravilha que isto representou para milhares de professores e estudantes do nosso interior, que se viram despertados pelo gosto da literatura, pelo prazer de ler. Este teu trabalho não tem preço. 

Vivi o começo da minha adolescência em Passo Fundo nos anos cinquenta e tenho a lembrança de que nada havia culturalmente falando. Nossa única diversão era a matinê no cine Imperial ou no Real, mais nada. Hoje, a cidade mudou totalmente a sua face. A universidade trouxe vida e inteligência para o município, que passou a ser referência nacional, sendo que a cereja deste bolo cultural é a nossa Jornada. Meus parabéns pelos trinta anos.

                                                                                           Voltaire Schilling