Portal das Jornadas
 
 

Você está em: Depoimentos

 

Depoimento de autores


E entre todas as instituições que mais movimentam o meio literário em diferentes aspectos, Passo Fundo ocupa sem favor algum a pole position. Não apenas pela realização bianual de congressos e reuniões de estudo nacionais e internacionais, mas pela organicidade de sua operação cultural, que inclui o evento em si e publicações posteriores, tornando-se um foro privilegiado que pode desde já ser considerado histórico.

Não esqueci o dado mais relevante, que é o tamanho e a densidade do encontro realizado há vinte anos, sob inspiração e organização da professora Tania Rösing e sua competente equipe.

                                                                         Carlos Heitor Cony

 

Lembranças

Tania chegou à casa de meu irmão Caio Machado, em Passo Fundo, junto com Acioly, numa tarde de domingo para um gostoso bate-papo. Apresentou um projeto de uma jornada de literatura em Passo Fundo com um formato diferenciado: leitura antecipada das obras dos autores convidados.

O Josué imediatamente se entusiasmou com a idéia. Conversamos muito sobre as possibilidades. Daria certo, tínhamos certeza. E deu.

A capacidade da Tania de mobilizar uma reunião inteira é impressionante. Lembro que no dia em que estávamos viajando para o início da Jornada, um pouco atrasados, o Josué corria mais do que o permitido. Passávamos por um posto da Polícia Rodoviária sem nos dar conta. Os policiais saíram atrás de nós e nos fizeram voltar. Josué deu as explicações da pressa e disse que levávamos o Mário Quintana e que ele, Josué, faria a abertura dos trabalhos. Os policiais ficaram encantados e fizeram questão de cumprimentá-lo. E, para surpresa nossa, um deles estava com um livro do Mário e pediu um autógrafo.

Todo Planalto Central estava mobilizado!

Depois veio a Jornada Nacional. Quantos amigos reunimos em Passo Fundo: Antônio Callado, Millôr Fernandes, Otto Lara Rezende, Fernando Sabino, Luis Fernando Veríssimo, Orígenes Lessa...

Lamento que o Josué não tenha acompanhado o êxito cada vez maior desse magnífico trabalho desenvolvido pela Taania e sua equipe. Ele teria adorado participar das Jornadas que se sucederam Nacionais e Internacionais.

Vinte anos! Há quanto tempo!... 

                                                                 Nydia Machado Guimarães 

 

 

Declaração

Há um dilema clássico, humano e literário, que é o desafio para os homens através dos tempos, quase nunca resolvido, ou decifrado, ou sequer enfrentado: a contradição imemorial entre Ação e a Palavra.

Declaro que Passo Fundo, há exatos vinte anos, à sua maneira, tirou o véu do mistério.

Em Passo Fundo, há vinte anos, Ação e a Palavra se encontram e se completam. Há um pouco de milagre e bruxaria nisso, mas não é de espantar, pois o imponderável sempre foi matéria literária.

Em Passo Fundo dá vontade de ser brasileiro.

Em Passo Fundo, aos autores brasileiros, dá vontade de ser autor gaúcho.

Em Passo Fundo – no Encontro de Literatura de Passo Fundo, celebrado a cada dois anos – a gente, nós, todos nós, ficamos meio convencidos. Por boas razões.

Por exemplo: dá vontade de declarar que o nosso país, o Brasil vai dar certo.

Basta seguir o exemplo de Passo Fundo.

Vinte anos está fazendo o Encontro. Bueno: declaro aqui que o Encontro sempre terá a audácia, a força e os sonhos dos vinte anos, como todos nós, adeptos da eterna juventude. É ordem da Tania, professora, pastora e guerreira.

E mais não tenho a declarar.   

                                                                                       Tabajara Ruas   

 

Passo Fundo é uma festa, trata os livros com alegria.  Os livros oferecem imagens mais livres, soltas e profundas, contrastando com o padrão da comunicação atual que faz uma redução da percepção.  A literatura ajuda a romper com os limites estreitos da informação esquemática e mecânica de hoje em dia.

                                                                                            Antonio Skármeta

 

Tive a sorte de participar da Jornada Literária de Passo Fundo em 2001, na melhor das circunstâncias: algum tempo  depois de migrar para São Paulo. Já admirava o evento, mas o prazer de integrá-lo ao mesmo tempo em que “matava” a saudade da terra natal foi especial, acrescido do orgulho de poder ver como os visitantes de fora do estado ficavam pasmos com o tamanho e a organização daquela festa em torno dos livros. Fiz uma oficina para pessoas que vinham de muito longe, haviam cruzado um país continental, e foi então que percebi o real significado das Jornadas na nossa cena cultural. Num país que ainda apresenta carências nesse setor tão fundamental, e que talvez por isso mesmo apresente uma baixa autoestima permeando nossa identidade, eventos como esse servem de estímulo, são um modelo concreto e nos dão novo  ânimo para seguir trabalhando com a certeza de que mudanças muito importantes podem acontecer. Obrigado pela oportunidade de ser  testemunha.

                                                                                                       Eloar Guazzelli

 

A iniciativa das Jornadas Literárias de Passo Fundo corresponde a um ato de bravura, de determinação e garra de seus organizadores. A resposta da comunidade acadêmica, dos meios intelectuais e dos que as frequentam, simplesmente por amarem as letras e o convívio com a literatura, é a mais entusiástica possível. Participar de tal sinergia é uma verdadeira bênção que renova em nós a crença de que nem tudo está perdido se mais de cinco mil pessoas param durante uma semana para dar espaço e voz à grande homenageada do evento: a literatura brasileira destinada a adultos e ao público infanto-juvenil.  A atmosfera é saudável, pois veem-se crianças com livros entre mãos, poetas concedendo autógrafos, escritores ocupando os microfones das rádios e estações de televisão que acorrem ao campus da UPF, transformando as letras em notícia. Saímos saciados das Jornadas e a única tristeza é saber que teremos de esperar dois anos para que chegue novamente a hora se subir ao Planalto, enfrentar o frio e ser amplamente recompensados pelo revigorante ambiente intelectual e humano das Jornadas.

                                                                                                                  Zilá Bernd

 

Cena comovente, histórica. Emoção ao descrevê-la como repórter no ano de 1997. Em Passo Fundo, que pode se orgulhar para o resto da vida por proporcioná-la. Ainda era no circo de lona onde hoje está o shopping. Cerca de cinco mil pessoas, cadeiras e arquibancadas abarrotadas, muita gente em pé. No palco-picadeiro, Adélia Prado. A aparência frágil por ser de alguém com tanta ternura no olhar se agiganta, brasileira. Nenhum pio, nem os insetinhos atraídos pelos holofotes ousam zumbir. Voz serena, segura, revela a mulher de Divinópolis que adora escamar os peixes junto ao marido que chega no meio da noite com proezas da pescaria. Os versos são palavras trapezistas que encantam o respeitável público das Jornadas Literárias em momento inesquecível. Na matéria para o jornal Zero Hora escrevo que Adélia é breve nas respostas. A poeta esclarece com aquele sorriso doce, covinhas que dão vontade de acariciar: "Mineiro que fala demais desabona”. 

                                                                                                        Carlos Urbim  

 

Creio que ainda não foi feito um levantamento completo da importância que assumem as Jornadas Literárias de Passo Fundo na vida cultural de nosso país,  marcando profundamente todos que delas participaram, sejam autores, professores ou leitores de qualquer idade. A semente lançada por meu amigo Josué Guimarães cresceu e ganhou força graças aos que a ela se dedicam de corpo e alma.  Ter sido convidado em 2001 para essa festa da cultura, tomar parte em mesas-redondas e debates, com auditórios sempre lotados, foi uma experiência inesquecível.  Nos intermináveis bate-papos reencontrei amigos e escritores e fiquei conhecendo outros que admirava.Tudo coroado pela surpresa de ter conquistado, com o livro Nur, na escuridão, o Prêmio Zaffari & Bourbon, , dividido com Antônio Torres, autor de Meu querido canibal. Tal fato  me deu maior visibilidade  no meio cultural brasileiro.  É ocioso dizer que iniciativas  como essas deveriam proliferar pelo Brasil, estimulando tanto a iniciativa privada quanto os poderes públicos a acreditarem na força dos livros e seu poder libertador. A cada dois anos, a Jornada, que já ultrapassa nossas fronteiras, é resultado do profícuo trabalho, muito especialmente nas escolas, de uma equipe dedicada e apaixonada pelo que faz. 

                                                                                             Salim Miguel

 

 

Quem como eu trabalha com livros faz tempo já está acostumado a receber convites para participar de feiras, salões e bienais do livro que parecem partir do seguinte princípio: usar como pretexto as noções de “educação”, “formação de leitores” e “cultura” para única e exclusivamente vender livros. O resultado é sempre o mesmo: um enxame de estudantes e professores exaustos e perdidos perambulando entre stands de livros sem saber bem o que estão fazendo ali.  Por sorte há eventos, bem poucos, que partem de outra premissa: utilizar a venda de livros, as leis de incentivo, editoras e livrarias, entre outros apoiadores, para promover a educação, a formação de leitores e cultura por meio de debates, mesas- redondas, palestras, cursos, oficinas e encontros entre escritores e leitores que, neste caso, de fato, conhecem a obra do autor com quem estão falando. Considero a Jornada de Passo Fundo uma ótima representação desse segundo modelo de evento, fundamental para o desenvolvimento de nosso país. Tenho muito orgulho de já ter participado dela por três vezes.

                                                                                      Ricardo Azevedo

 

Ser convidado para participar das Jornadas Literárias de Passo Fundo é um privilégio disputado por autores do Brasil inteiro. Habituados a falar para públicos modestos, é com justificado espanto que escritores vindos de todos os cantos são colocados dentro de um circo – sim, um circo! – onde costumam ser esperados por milhares de atentos espectadores.
Quem vai às Jornadas Literárias de Passo Fundo sai de lá com a certeza de que o Brasil tem cura. A Tania Rösing, responsável por esse fenômeno, devia ser presidenta da República.

                                                                                       Fernando Morais


Escritores, atores, escultores de voos - realidades diversificadas. Palavras, para se ouvir, se conversar. Alunos e professores esfregam imagens, desenham horizontes. O conhecimento de mãos dadas com o encantamento. Fazem ver, com delicadeza.

Sem os dados do imaginário, todo e qualquer sistema é ineficiente e precário. Reinventa-se a possibilidade do múltiplo. Faça valer, vá ler. No palco, na sala, no auditório, no picadeiro sob a lona. No tabuleiro, na prancheta, na tela do computador.

Nasce a Jornadinha, cria inevitável, a criançada virando páginas e softwares, acessando links e sonhares. Há de se correr para acompanhá-los, ser competente para lidar com eles, e seus interlocutores. Dialogar, escutar-lhes; não vejo sentido ficar apenas com os que falam como devemos falar com eles. Estar atento, todo o tempo.

 A Jornada vem aprendendo: doutores, sábios, teóricos, oferecem tanto quanto sabiás, artistas, cantadores. E mais esperteza, com certeza.

                                                                                   Mario Pirata


Não consigo conceber felicidade em sua plenitude mais completa sem a percepção e a compreensão do mundo que nos rodeia. Por essa lógica, não há sequer a possibilidade de se ser feliz sem senso crítico e, consequentemente, sem leitura. Leitura inicial, feita do olhar contemplativo para o mundo e para as coisas do mundo, mas, em seguida, leitura desse mesmo mundo a partir do Big-Bang, que é uma simples e por vezes insignificante palavra.

 Celebrar a palavra, aquilo que nos distingue, qualifica e nos une, a caixa de Pandora que nos problematiza, mas também nos dignifica e explica como seres pensantes, aqueles que vivem, pois têm consciência de que existem e vivem, não meramente sobrevivem, é também celebrar aqueles que acreditam em sua força transformadora, no poder da imaginação sobre a barbárie, a truculência dos que acreditam na violência e, portanto, banalizam e amesquinham a vida. Participar de uma Jornada Literária - e eu o fiz em duas memoráveis ocasiões - é partilhar de tal crença, é doar-se, mas, antes de tudo, partilhar do entusiasmo contagiante de todos que, de tempos em tempos, marcham para Passo Fundo atrás desse bálsamo contra a mesmice e a estupidez, em busca da lona acolhedora do "circo mágico do saber e da imaginação à rédea solta".

     Vá para Passo Fundo, rapaz, e conheça-te a ti mesmo!

    Ah, é: e viva as jornadetes, sem as quais o "circo" não anda!

                                                                                                   Júlio Emílio Braz


Participei da 9ª Jornada Nacional de Literatura e da 1ª Jornadinha Nacional de Literatura de Passo Fundo no ano de 2001. Quando pisei pela primeira vez na cidade de Passo Fundo, estava já com uma bagagem de grandes eventos literários pelo Brasil: bienais em São Paulo, Rio de Janeiro, feiras no Nordeste, Minas Gerais, Curitiba, Porto Alegre e Norte do Brasil. O que me impressionou foi ter contato com uma cidade que foi transformada pela literatura, a cidade de Passo Fundo!

Fiquei pasmado com a quantidade de jovens leitores na cidade, a educação do povo, o carinho das crianças e a competência dos produtores do evento. Vi artistas negros, índios, estrangeiros, nacionais, sendo valorizados pela sua arte e não pela sua aparência. Sentei ao lado dos maiores nomes da literatura brasileira e mundial (Frei Beto, Jean Claverie, Ziraldo, Antônio Skármeta, Mano Melo, Alcione Araújo, Inácio de Loyola Brandão, etc... ) sem ser questionado e/ou desrespeitado na minha condição de artista popular!

Saí de lá com orgulho de ser brasileiro e motivado para continuar o meu caminho artístico. Tive amor, comida, contrato assinado, respeito e fui chamado pelo nome; tive chances, oportunidades, fui aplaudido por multidões! Até hoje guardo no coração uma bela lembrança da cidade e do evento e faço questão de divulgar para o Brasil todas as Jornadas Literárias de Passo Fundo.

                                                                                         Jiddu Saldanha


A sensação é a de ser um mega-artista. Fãs correndo, autógrafos sem parar, pose para fotos... Não, não estamos falando de um show de rock ou algo do gênero. Falamos aqui da participação dos autores na Jornadinha. É impressionante como a coisa funciona! O público tem uma ligação muito forte com o autor. E o autor tem a possibilidade de encarar seus leitores, finalmente, cara a cara! Isso só é possível nessa grande festa que é a Jornada! Que venham as próximas, que venham sempre!!

                                                          Raquel Grabauska  (Cuidado Que Mancha)

 

O significado da Jornada Literária de Passo Fundo pode ser avaliado por seus vários e relevantes aspectos, mas uma frase que ouvi de um escritor gaúcho “agora que fui à Jornada de Passo Fundo, já posso morrer”, para mim diz tudo. O escritor já faleceu e as suas palavras continuam a ressoar em mim. Isso me faz pensar na Jornada Literária como uma longa e transformadora jornada de vida.

 A literatura, essa segunda natureza humana, com a Jornada Literária, ganhou um dos seus mais expressivos momentos de celebração e dignidade entre nós. Entrar no Circo da Cultura era iniciar uma extraordinária viagem pelo imaginário das palavras. Assim como o meu amigo escritor, eu e outras tantas pessoas tivemos nossas vidas transformadas, reinventadas, a partir dessa experiência inesquecível.

                                                                                  Dilan Camargo


Todo mundo que se debruça sobre o tema da formação de leitores no Brasil devia estudar o modelo da Jornada Nacional de Literatura. Diferente dos eventos como feiras, festas e bienais, todos importantes, a Jornada ocupa um lugar e uma abordagem próprios. Quem chega a Passo Fundo nos dias do evento e vê aquelas lonas cheias não viu o que torna aquilo tudo maior ainda. Não se trata de um evento centrado na venda de livros, nos lançamentos editoriais ou mesmo de uma festa de badalação em torno de escritores. É um evento que tem uma grande base de ensino de literatura. Durante um longo período anterior à Jornada, cerca de seis meses, todos os autores que estarão presentes foram lidos, trabalhados, discutidos pelas escolas, numa ação que se estende à comunidade. Quando chega o autor na lona, ele não é um pop star por se famoso, mas porque foi lido. E não há facilitação de obras, de títulos. Só vai quem escreve boa literatura. Esse trabalho que completa trinta anos tem resultados concretos. A cidade de Passo Fundo tem hoje o maior índice de leitores do Brasil. É hora de tornar o modelo da Jornada a base para uma política nacional de leitura e ensino de literatura.

                                                                                         Ricardo Silvestrin

 

As Jornadas Literárias impressionam pela presença massiva de estudantes e interessados em literatura, tornando-se no maior auditório ao vivo que um autor possa pretender. Em conferências e palestras em outras cidades brasileiras, inclusive nas capitais de diversos e Estados da Federação, sempre causamos assombro quando nos referimos  à magnitude do evento realizado em Passo Fundo.

Conforme assinalei acima, as Jornadas Literárias de Passo Fundo não se limitam ao evento em si, uma vez que são publicados teses, estudos, comentários e farto material de literatura, que conserva e amplia o clima de entusiasmo pela literatura em geral, bem como em seus diversos setores especializados, como a crítica, o ensaio, a literatura infantil, etc.

Exemplo pioneiro que transcendeu fronteiras, as Jornadas Literárias de Passo Fundo, nos últimos vinte  anos, estão a merecer o apoio logístico dos órgãos oficiais da União, dos Estados e Municípios. E há muito já mereceram, dos autores e editores, o respeito pela bem-sucedida cruzada em favor da cultura em nosso tempo.

                                                                                            Carlos Heitor Cony