Portal das Jornadas
 
 

Você está em: Depoimentos

 

Depoimento de autores


Contemplo, na estante da sala de casa, o Troféu Vasco Prado, que me traz lembranças, na verdade, nunca esquecidas: a universidade, as enormes tendas onde se agrupavam professores entusiasmados, crianças eufóricas e curiosas, escritores felizes e tantos leitores atenciosos.

Lembro-me do convívio amigo com os demais escritores, sobretudo a roda entrosada e alegre dos escritores de livros infantis convidados para a Jornadinha; o olhar inteligente das crianças; as inúmeras conferências e shows; a aula espetacular de Ariano Suassuna; e Chico Buarque cantando, a capella, “João e Maria” (Agora eu era herói...) para um público em êxtase.

São memórias acompanhadas pelo sopro de um vento frio que tomou conta de Passo Fundo naqueles dias. Boas lembranças, que revivo nos cafés da manhã, quando me sirvo da mesma xícara que gentilmente recebi da organização das Jornadas, naquele saudoso ano de 2005.

                                                                                        Ricardo da Cunha Lima

 

Para qualquer escritor, as Jornadas Literárias de Passo Fundo representam muito mais que apenas um evento literário ou uma feira de livros. Elas significam – com clareza e exação – a certeza do fluir do prazer pessoal e dos encontros amáveis com colegas. E, mais, muito mais ainda, a possibilidade de estimular leitores, de todas as idades, especialmente os jovens.

Quando estive em Passo Fundo – e isso já há muitos anos, razão por que quero lá  voltar – encantaram-me, a par de todos os predicados esboçados aí acima- as atenções pessoais de Tania Rösing. Evoco – ainda hoje com emoção – o sentimento de solidariedade da Tania, aliado a sua imbatível simpatia pessoal, incentivando-me a prorrogar, por mais tempo, o já longo debate numa das tendas sobre a sedução da MPB, sua história, seus livros de referências.

Portanto, as Jornadas ultrapassam – ao menos para muitos autores, e foi o meu caso – o prazer de poder colaborar para a expansão do hábito de ler, de saber, de reconhecer. Elas acabam por se transformar em momentos inesquecíveis de vida, que todos nós, autores, queremos acarinhar perto do coração.

                                                                                           Ricardo Cravo Albin

 

A primeira vez, dizem, é de difícil esquecimento. Marca a alma daquele que realiza a experiência. Marca maior, quem sabe, quando desejo há muito já era. Pois foi assim, com certeza, a tatuagem dos dias passados em Passo Fundo, naquele fim de agosto de 2005. A Jornada de Literatura se revelou não apenas um evento para se falar em livro, mas vivência mesmo. Uma explosão de atividades em que bastava voltar os olhos para qualquer lado, para se ser presenteado com uma surpresa (já desejada, já esperada, é claro, mas surpresa, enfim): uma criança vibrando no contato com o livro; um escritor imortal entre as pessoas comuns; um circo de ideias, algumas vindo ao encontro do pensado, outras desacordando o leitor adormecido.

A Jornada foi (é) uma soma de eventos e de emoções, que, para quem escreve, é momento para perceber que as palavras, assim, soltas, sempre encontrarão ninho no coração de alguém. Literatura tem disto: aproxima aqueles que, talvez, pelas circunstâncias, jamais se toquem, jamais se falem. Minha primeira Jornada é pedra na memória. Sempre. E desejo de retorno, claro.

                                                                                       Caio Riter

 

As Jornadas Literárias de Passo Fundo representam o que de melhor um escritor pode encontrar: um espaço de celebração plural da palavra, sob a batuta impecável de Tania Rösing.

Estive presente em alguns desses encontros e encantei-me com a qualidade e a diversidade da programação, com a presença entusiasmada de um público,  cuja faixa etária se estende do “júnior” ao “sênior”, irmanados todos na celebração da qualidade das obras literárias.

Numa época em que tanto se valorizam o efêmero e o descartável, é também digna de louvor a série Revisitando os clássicos, na qual os participantes têm oportunidade de reencontrar grandes autores quase sempre esquecidos da programação de eventos similares.

Vida longa à Jornada!

                                                                      Antonio Carlos Secchin

 

En agosto de 2005 fui invitado a participar en las Jornadas Literarias de Passo Fundo. Era un año muy especial, por tratarse de un nuevo centenário de la publicación de la obra máxima de la Literatura española: El Quijote. Tuve ocasión de dictar uma conferencia sobre la actualidad del Quijote, um recital poético en español para la Escuela de Idiomas, y otro para cuatro grupos de chicos entre doce y dieciséis años. En total: tres mil jóvenes.

He de reconocer que no había tenido jamás tal cantidad de chicos pendientes de mis palabras, y que todos ellos, venidos desde diferentes puntos del país, mostraron un interés muy especial por la lectura, que em este caso era mi obra en español. Las Jornadas Literarias son una muestra extraordinaria del interés por La Literatura como probablemente no hay otra en el mundo. Recuerdo esas fechas con especial cariño.

                                                                              Antonio A. Gómez Yebra

 

O Brasil, infelizmente, está colocado entre os países de comportamento mais violento e corrompido no mundo civilizado. Isso pode ser facilmente constatado nas estatísticas do trânsito urbano e rodoviário, no cenário policial desproporcional dos assaltos nas cidades, na impressionante violência doméstica contra mulheres e crianças, na aspereza dos relacionamentos no cotidiano das pessoas. Podem-se responsabilizar os disparates da iníqua distribuição de renda e os apelos ao consumo feérico, estimulado pelas campanhas publicitárias e ao comportamento sugerido pela mídia em geral. Existe um mundo imantado de vaidades, hedonismos, de consumo e de riqueza instantânea a atrair e fascinar milhares de pessoas. 

Como alcançar ou compreender e aceitar o inalcançável?

Ler e escrever pode ajudar a integrar mais pessoas. Mas não a leitura superficial de qualquer coisa escrita, legendas, textos precários, preconceituosos, superstições e frivolidades. Praticar e estimular esportes em geral pode até ajudar a reduzir as tensões e abrir portas a reconhecimentos aqui é o suficiente porque o pão ainda é escasso e o circo mostra-se e ali. Mas não cada vez mais como o estopim ardente para a violência estrepitosa, em comportamento incontrolável de barbárie por massas enfurecidas.

Uma saída efetiva vem sendo oferecida há anos pela Jornada Literária de Passo Fundo. Estimular o aprendizado metódico do conhecimento, pela leitura crítica e consciente da boa literatura e dos bons livros, de bons autores. Alcançando resultados concretos e mensuráveis.

Esta é uma saída construtiva que recupera um caminho já trilhado por grandes civilizações. A recuperação do espírito e da ética, a reconstrução dos reconhecimentos dos espaços antagônicos do bem e do mal, a avaliação dos espaços tangíveis dos direitos individuais e o respeito ao outro e à dignidade de todos, como princípios.

Essa tem sido a contribuição cultural efetiva das Jornadas Literárias de Passo Fundo. O antídoto contra a violência e o caos.

                                                                                         Alfredo Aquino